Jair Bolsonaro é eleito presidente e interrompe série de vitórias do PT
Candidato do PSL derrotou o petista Fernando Haddad no segundo turno, com 55% dos votos, e foi eleito o 38º presidente do Brasil. Capitão reformado do Exército e deputado federal desde 1991, Bolsonaro se elegeu com promessas de reformas liberais na economia e um discurso conservador, contrário à corrupção, ao PT e ao próprio sistema político.
Jair Messias Bolsonaro, do PSL, foi eleito o 38º presidente da República neste domingo (28) ao derrotar em segundo turno o petista Fernando Haddad, interrompendo um ciclo de vitórias do PT que vinha desde 2002.
A vitória foi confirmada às 19h18, quando, com 94,44% das seções apuradas, Bolsonaro alcançou 55.205.640 votos (55,54% dos válidos) e não podia mais ser ultrapassado por Haddad, que naquele momento somava 44.193.523 (44,46%).
Veja o resultado da apuração: no total do país; por cidade; por estado; por zona eleitoral
No discurso da vitória, Bolsonaro afirmou que o novo governo será um “defensor da Constituição, da democracia e da liberdade”.
Aos 63 anos, capitão reformado do Exército, deputado federal desde 1991 e dono de uma extensa lista de declarações polêmicas, Jair Bolsonaro materializou em votos o apoio que cultivou e ampliou a partir das redes sociais e em viagens pelo Brasil para obter o mandato de presidente de 2019 a 2022.
Na campanha, por meio das redes sociais e do aplicativo de mensagens WhatsApp, apostou em um discurso conservador nos costumes, de aceno liberal na economia, de linha dura no combate à corrupção e à violência urbana e opositor do PT e da esquerda.
Com isso, se tornou um fenômeno eleitoral ao vencer a corrida presidencial filiado a uma legenda sem alianças formais com grandes partidos, com pouco tempo na propaganda eleitoral de rádio e TV e distante das ruas na maior parte da campanha, em razão do atentado no qual sofreu uma facada que o perfurou no abdômen.
Após quatro vitórias consecutivas do PT em eleições presidenciais (2002, 2006, 2010 e 2014), o novo presidente eleito se apresenta como um político de direita.
Vitorioso na primeira vez em que se candidatou a presidente, Bolsonaro sucederá Michel Temer (MDB), vice de Dilma Rousseff (PT) que assumiu o governo em 2016 devido ao impeachment da petista.
Primeiro turno
A campanha eleitoral teve início em agosto com 13 candidatos à Presidência da República, o maior número de concorrentes desde 1989, quando houve 22 postulantes:
Jair Bolsonaro (PSL) – Reeleito deputado federal em 2014 pelo PP, Bolsonaro saiu em busca de um partido para concorrer à Presidência. Passou pelo PSC e, em março, filiou-se ao então nanico PSL. Bolsonaro teve dificuldade para encontrar um vice. O general Hamilton Mourão (PRTB) foi a quarta opção, após convites ao senador Magno Malta (PR), ao general Augusto Heleno, do PRP, e à advogada Janaína Paschoal, do PSL. Bolsonaro também não conseguiu alianças com grandes partidos e teve pouco tempo na propaganda eleitoral gratuita. O candidato compensou a desvantagem com forte presença nas redes sociais e no aplicativo de troca de mensagens WhatsApp. Bolsonaro encerrou o primeiro turno como o candidato mais votado, com 49.276.990 votos (46,03% dos válidos).
Fernando Haddad (PT) – O candidato foi registrado como vice na chapa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que em agosto liderava as pesquisas de intenção de votos mesmo preso desde abril em Curitiba devido à condenação a 12 anos e um mês de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso do triplex em Guarujá (SP). Haddad assumiu a cabeça da chapa em setembro, depois que o TSE rejeitou o registro da candidatura de Lula. A estratégia do PT foi vincular a imagem de Lula à de Haddad, a fim de assegurar a transferência de votos. No começo, Haddad tinha 4% nas pesquisas e passou da faixa dos 20% – metade das intenções de voto que o padrinho vinha obtendo. O petista recebeu 31,3 milhões de votos (29,28% dos votos válidos) no primeiro turno e passou ao segundo turno.
Atentado contra Bolsonaro
Em uma campanha marcada por ânimos exaltados nas redes sociais e nas ruas, Jair Bolsonaro foi vítima de um atentado no qual levou uma facada, em 6 de setembro, durante ato de campanha em Juiz de Fora (MG). O candidato do PSL teve o abdômen perfurado, passou por cirurgias e ficou 23 dias internado.
Em razão do atentado, o deputado concentrou a campanha nas redes sociais por meio de mensagens de texto e vídeos – após o primeiro turno, por exemplo, a campanha marcou uma entrevista coletiva no Rio de Janeiro, mas o candidato optou por um discurso transmitido ao vivo pelo Facebook.
Bolsonaro recebeu 49,2 milhões de votos no primeiro turno, contra 31,3 milhões de Haddad.
O resultado do primeiro turno ainda encerrou a polarização entre PT e PSDB das últimas seis eleições – o PSDB venceu em 1994 e 1998, e o PT em 2002, 2006, 2010 e 2014.
Propostas de Bolsonaro
Bolsonaro criou uma espécie de alto comando da campanha que o levou à Presidência, composto pelos três filhos que são políticos (Carlos, Flávio e Eduardo);o advogado Gustavo Bebianno, presidente do PSL; o economista Paulo Guedes, e generais da reserva, com destaque para o general Augusto Heleno.
Guedes assumiu o papel de embaixador de Bolsonaro junto ao mercado financeiro, e os generais ajudaram a conter resistências ao nome do capitão nas Forças Armadas.
Políticos também apoiaram Bolsonaro, a exemplo do deputado federal Onyx Lorenzoni (DEM-RS), já anunciado como ministro da Casa Civil no novo governo. A soma do trabalho desse grupo mais restrito resultou no plano de governo e em propostas apresentadas durante a campanha:
Promessas de Bolsonaro
• Redução do número de ministérios dos atuais 29 para cerca de 15, com cortes de cargos e fim das indicações políticas
• Redução da carga tributária e desburocratização
• Privatização ou extinção de estatais
• Imposto de renda: alíquota única de 20% e isenção na faixa até 5 salários mínimos
• Reforma política e o fim da reeleição
• Expulsão de médicos cubanos que não conseguirem revalidar o diploma no Brasil e “credenciamento universal” de médicos para atendimento no SUS
• garantia de retaguarda jurídica de “excludente de ilicitude” para civis e policiais
• mudança no Estatuto do Desarmamento e tipificação de ações do MST como terrorismo
• redução da maioridade penal
• resgate do projeto das 10 medidas contra a corrupção
• mudanças na Lei Rouanet, que reverte recursos para cultura
• aproximação com EUA, Japão, Europa e Israel e distanciamento da Venezuela.
(Guilherme Mazui/Fonte: G1-Brasília)
Fotos: Arquivo divulgação